Julbord - Uma experiência

Nanah Soares
4 min readDec 24, 2021
Fachada do Tornvillan, de 1889, em Nacka. Local do Julbord.

Natal em sueco chama-se Jul e mesa é bord. Julbord então é literalmente "mesa de Natal". Mas a verdade é que, Julbord é mais do que um buffet de comidas tradicionais de Natal, é uma experiência sensorial e deliciosa.

Tradicionalmente, o Julbord acontece no dia 24 de dezembro com a família reunida em volta da mesa repleta de pratos típicos feitos por eles mesmos. Não é costume ver suecos nas ruas ou em restaurantes na véspera de Natal pois eles levam à sério o popular "dia de estar em família".

Nos dias que antecedem a data, porém, os restaurantes suecos proporcionam essa experiência para quem quiser conhecer e, no Dia 23 de dezembro de 2021 (ontem), resolvi entender como funciona essa tradicional festa de Natal por aqui.

Eu confesso que não estava levando muita fé nisso: "O que poderia haver de tão diferente em um buffet de comidas?", falei. Mas o marido que havia ido com os colegas de trabalho dois anos antes, insistiu. Escolhemos um restaurante em Nacka, município vizinho à Estocolmo pois os daqui já estavam sem data e sem horários. É preciso agendar com antencedência pois a procura é grande.

A experiência começou com o recepcionista nos dirigindo à uma cabana na rua com poltronas de madeira forradas com peles imitando animais, mantas de lã e fogos de chão na frente, e nos convidou à tomar um glögg, que é como eles chamam aqui, um vinho quente com canela e especiarias. Este era um licor de maçã caseiro de cor âmbar, bem saboroso e nos aqueceu! O frio batia a marca dos -3ºc, mas estava agradável , sem vento e, com céu estrelhado embora com neve no chão, caída na noite anterior.

Aquecidos, nos dirigimos ao restaurante da vila Torn (Tornvillan), ao lado dali, de arquitetura antiga que datava de 1889. Na decoração, muitos quadros com reis, rainhas e bailes de época, além de objetos, ornavam o lugar.

O buffet era composto primeiro, por peixes em conserva dos mais diversos tipos de preparos: em frutas vermelhas; ao estilo "Iceland"; com crocantes de caramelo; com beterraba; com legumes; com especiarias, enfim, uma infinidade de opções (eram quase 20 tipos diferentes!). E, não é qualquer peixe, a tradição do advento aqui é o sill, o que chamamos de arenque no Brasil. Eu achei delicioso!

Julbord. Foto: Divulgação - Tasteline

Junto com o sill em conserva vinham os pratos frios: salmão cru e gravlax de salmão (marinado com funcho); embutidos de porco caseiros; julskinka (presunto de natal); ovos cozidos com caviar; queijos servidos com molhos agridoces; knäckebröd (pão crocante) e vários tipos de molhos salgados.

Os pratos quentes eram à base de batatas, legumes e carnes de porco assadas. Não eram muito diversificados como os pratos frios que, suponho, são obviamente, o grande destaque do julbord.

Minha sobremesa preferida foram um bolo cortado fino chamado pepparkaka (espécie de pão de mel sueco com especiarias) com um pingo de creme de baunilha por cima e, junto com ele, o sabor maravilhoso da äppelmarmelad com pedaços de gengibre que explodiam na boca. Essa combinação ganhou a noite, para mim. Haviam também crumble de maçã, cheesecake estilo sueco com molho de frutas vermelhas, macarons, trufas e fudges de chocolate, doce de cereja caseiro e uma infinidade de outros doces que não consegui provar.

Para acompanhar o buffet, tomei uma taça de vinho Pinot Noir da região de Marlborough, na Nova Zelândia. Um vinho leve, suavemente tânico mas com acidez alta. E, uma taça de Malbec (o meu preferido da noite!), um vinho encorpado, de sabor frutado e taninos mais suaves. Era um Malbec da Argentina, mesma nacionalidade da moça que atendeu a nossa mesa. Ela foi super atenciosa, pediu por gentileza para falarmos em inglês com ela (mal sabia ela que éramos latinos, também) pois ela era nova na Suécia e estava apenas há 1 mês no país. Demos dicas de onde ela encontraria erva-mate o que a deixou visivelmente feliz e, à nós também, por ajudá-la. Sabemos o quanto é difícil nos primeiros meses, estar em um país diferente do nosso.

Para completar essa experiência, teve um plus tradicional que, embora não fosse nós a fazê-lo, nós presenciamos, aplaudimos e rimos com eles. Aliás, todo o salão! Na mesa à nossa frente havia uma família sueca que, na hora de tomar os snaps (bebida forte que se bebe em copos de pequenas dimensões em formado V) fizeram o que tradicionalmente fazem os suecos no advento: Brindaram com os copos levantados e cantando bem alto uma música sueca, engoliram de uma só vez e, rindo, foram comer sobremesa. ;)

Fechamos a noite com um pouco de neve que começava a cair quando chegamos em casa, felizes e gratos pela experiência. Foi realmente divertido e convido você a conhecer mais outras culturas e explorar coisas novas. Pode ser simples como provar uma comida diferente, mas a gente sempre sai diferente quando ousa experimentar algo novo.

Feliz Natal! ❤

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Nanah Soares

🐞 Art and Design. As vezes escrevo um quê aqui e ali de qualquer coisa. Para ver minha arte, me siga no Instagram: @nanah.art